Cão de serviço impedido de embarcar em voo tem função terapêutica e previne 'meltdown' de criança; entenda
26/05/2025
(Foto: Reprodução) TAP proibiu cachorro de viajar 3 vezes em avião, a primeira delas ao lado de criança autista. Menina embarcou com a família e, desde então, sofre com a ausência do animal. Companhia aérea informou ao g1 que a segurança dos passageiros é prioridade e sugeriu que animal fosse no bagageiro, e não na cabine. Tedy é cão de serviço de uma criança autista e foi proibido pela empresa aérea TAP a embarcar em voo com destino a Portugal
Arquivo pessoal
O cão de serviço Tedy, que desde o dia 8 de abril tenta embarcar em voo para Portugal, possui uma função terapêutica e ajuda a prevenir casos de desregulação sensorial e emocional, que são chamados de meltdown na psicologia.
A explicação é do pai da criança autista que está sem o cachorro há mais de 45 dias. Renato Sá participou nesta terça-feira (26) do programa Encontro com Patrícia Poeta. Segundo ele, a criança já teve um episódio de meltdown depois de ficar afastada do cão.
"É o que a gente chama de meltdown, que é uma crise em que ela perde o controle sobre as suas próprias ações. Isso às vezes resulta em ações autolesivas e heterolesivas”, disse Renato.
Durante esses episódios, a pessoa pode apresentar comportamentos como gritar, chorar intensamente, se jogar no chão, agredir a si mesma ou aos outros. Em alguns casos, a pessoa pode ficar completamente em silêncio e paralisada.
Segundo ele, a presença do cão é fundamental para ajudar a manter a criança tranquila. "Ele nos ajudava a prevenir, nos avisar e evitar que ela entre nesse circuito", disse Renato.
Família de menina autista é impedida de levar cachorro de serviço do Rio para Portugal na cabine de avião pela 2ª vez
Treinado para atender a comandos
Tedy, segundo a família, recebeu treinamento durante 2 anos para atender a comandos específicos e, especialmente, ficar até 24 horas em jejum, evitando a necessidade de urinar ou defecar.
O animal é um cão de assistência que foi impedido de embarcar para Portugal pela companhia aérea TAP. Como o pai estava indo para o país a trabalho, a criança teve que entrar no voo sem Tedy.
“Foi um cão treinado para fazer exatamente essa função, que é de prevenir as crises dela e acompanhá-la em qualquer lugar que ela for. Eles já viajaram de avião juntos. Ele vai no pé do assento, foi treinado para estar ali daquela forma. Ele aguenta até 24 horas em jejum para não comer, para não se hidratar, porque aí, consequentemente, ele também não urina e não defeca”, explica Hayanne Porto, irmã de Alice.
Segundo especialistas, o impacto dessa ausência pode acarretar problemas para a criança autista e para o animal.
“O impacto dessa ausência pode ser desde o aumento do estresse, de ambos os lados, do lado da criança como do lado do animal, pode ser a volta dos sintomas que a gente chama de sintomas desafiantes, uma irritabilidade, inquietude, mau humor”, diz o psiquiatra Fábio Pinato Sato, especializado em Transtorno do Espectro Autista.
Criança estava com Tedy na 1ª tentativa de embarque
A primeira tentativa de embarque foi no dia 8 de abril, na viagem de mudança da família para Portugal a trabalho. A criança autista estava com os pais, quando o animal foi impedido de embarcar pela companhia aérea TAP pela primeira vez.
“É um cão de assistência. Ele ajuda a família na terapia da Alice, que é uma menina autista com nível 2 para 3 de suporte. E, portanto, ela depende de vários recursos para as tarefas dela do dia a dia. A Alice passou a ser dependente dele, em especial em situação de maior estresse”, explica Renato.
Há mais de 45 dias sem o cachorro, Alice voltou a ter oscilações emocionais e entrar em crises.
Tedy, o cão de serviço, no setor de embarque do Aeroporto do Galeão, no Rio
Álbum de família
Empresa sugeriu que animal fosse no bagageiro
Neste sábado (24), em mais duas tentativas e com uma liminar judicial que garantia o embarque do animal, A TAP informou à família que não transportaria o cão na cabine e sugeriu que o animal fosse no bagageiro, mas a irmã de Alice não concordou.
De acordo com a família, o cão de serviço não pode ser manipulado por outras pessoas e não suportaria o estresse da viagem.
Um gerente da empresa chegou a ser autuado pela Polícia Federal por desobediência, e o voo que aconteceria na tarde de sábado precisou ser cancelado. Hayanne continuou no aeroporto para tentar embarcar com Tedy em um voo previsto para 20h30. O voo atrasou e decolou na madrugada de domingo (25), sem Hayanne e Tedy.
“Nem a Justiça, nem nós pedimos isso. Então fica aqui as desculpas para essas pessoas porque, de fato, não queríamos isso. Queríamos que o voo tivesse acontecido, e o cão tivesse vindo conosco e a irmã da Alice também”, diz Renato se referindo ao primeiro voo que precisou ser cancelado.
O g1 procurou a TAP, que afirmou que a segurança dos passageiros é a prioridade da companhia e que a pessoa que embarcaria no voo não era quem necessita do acompanhamento do animal.
“A pessoa que necessita de acompanhamento do referido animal não realizaria a viagem neste voo de hoje. Sendo o animal acompanhado por passageira que não necessita do referido serviço. A TAP lamenta a situação, que lhe é totalmente alheia, mas reforçamos que jamais poremos em risco a segurança dos nossos passageiros, nem mesmo por ordem judicial”, disse a companhia aérea.
Alice se comunica por aplicativo
De acordo com a família, a menina de 12 anos não se comunica verbalmente, o que dificulta o real entendimento do que está acontecendo, provocando ainda mais ansiedade na menina.
"Temos dificuldade de extrair dela o que está acontecendo. Ela se comunica através de um aplicativo. A gente vai explicando que foi um imprevisto, mas não dá para explicar essa situação de liminar e o real motivo do cachorro não ter embarcado", diz o pai.
A validade do Certificado Veterinário Internacional (CVI), que também autoriza a viagem do animal, expirou neste domingo (25). No sábado, quando a jovem tentou embarcar com o cachorro, o certificado estava em vigor.